Em menos de um ano Annelie Pompe mergulhou fundo e escalou alto, tornando-se na primeira recordista mundial de Mergulho Livre a escalar o monte Evereste.
O seu projecto designa-se por "Deep Everest" e o seu objectivo é ir o mais fundo e alto possível, sem garrafas de oxigénio.
Mas porquê desafiar o corpo e a mente a condições e ambientes tão extremos?
Nas suas palavras:
"É o desafio, a liberdade, o prazer, a introspecção, tudo ao mesmo tempo. Estou sempre à procura de novos caminhos para desafiar-me a mim própria, às minhas capacidades e limites, e o mergulho livre proporciona-me oportunidades sem fim."
Para Annelie Pompe, puxar pelos limites é apenas a sua maneira de viver profundamente a vida e experimentar a natureza mais perto.
No entanto aponta que a maior aventura de todas não é nem o cume, nem a profundidade, mas sim dentro de si mesma.
Entrevista:
Entrevista:
João Costa: Em Maio passado, tornaste-te na primeira recordista mundial de Mergulho Livre a escalar o Monte Evereste. O que isso significou para ti, teres mergulhado tão fundo e depois subido tão alto?
Annelie Pompe: Realmente não significa mais do que isso, que tenho um recorde mundial em Mergulho Livre e que também subi o Monte Evereste. São aventuras muito separadas, mesmo que até sejam semelhantes em muitos aspectos; a característica mais importante é que eles foram dois dos meus maiores sonhos... mas devo dizer que o Evereste significou mais para mim. A montanha estava na minha mente e coração à 20 anos e é muito mais dura e difícil que mergulhar em apneia.
JC: Existe alguma relação entre o fundo do mar e o topo de uma montanha?
AP: (risos) Bem, o nível de oxigénio é relativamente baixo em ambos os lugares. Além disso, estás totalmente sozinho(a) e tens basicamente a tua vida nas tuas próprias mãos. Eu sinto-me muito viva num lugar onde quase nada pode viver. E as vistas são lindas em ambos os lugares!
JC: Estás agora no Campeonato do Mundo de Profundidade. Quão difícil é voltar a competir depois de uma aventura tão extrema?
AP: O meu corpo ainda está abalado com o Everest. Os dias em que fiquei a mais de 5000m de altitude deram cabo do meu corpo, dos músculos, do coração e do meu sistema imunológico. Eu ainda não recuperei totalmente. Sou muito optimista, mas desta vez não ajudou. Em relação às profundidades que pretendo atingir, preciso de recuperar e estar em muito melhor forma.
JC: Porquê mergulhar mais fundo, o que te atrai no "Big Blue"?
AP: Existem dois apelos. Um deles é apenas o meu amor pelo mar, e querer mergulhar mais fundo significa que eu posso passar mais tempo no mar (em treino, observando os peixes, etc) e a outra é que eu gosto do desafio físico e mental de ver o que posso fazer com o meu corpo e mente.
JC: Como te preparas para tais profundidades, como sintonizas o teu corpo e mente?
AP: Eu analiso o que o meu corpo precisa ser capaz de fazer, e então treino tanto quanto possível. Eu costumo misturar treinos de alongamentos e cardio com exercícios especializados, apneia, yoga e, claro, mergulho livre. Eu também acho que é importante fazer pausas dos treinos específicos, fazendo coisas completamente diferentes, como escalada, ténis, esqui, BTT de montanha – de forma a dar ao meu corpo e mente uma pausa. Quanto à sintonia da mente eu pratico meditação desde à 5 anos atrás e tenho um especialista a ajudar-me com as técnicas de visualização.
JC: Quais são os desafios físicos e mentais que enfrentas ao mergulhar tão fundo?
AP: Fisicamente o mais importante são os pulmões, evitar os baurotraumas pulmonares que penso puderem ser evitados fazendo alongamentos torácicos e mergulhos em FRC. Mentalmente é tentar eliminar o facto de ser realmente assustador mergulhar tão fundo apenas numa única inspiração!
JC: Que princípios deve seguir quem quer aumentar a sua profundidade?
AP: Observe a tua mente. É geralmente a mente que te impede de mergulhar mais fundo. Não basta que treines só o corpo e técnicas de equalização. Não tenhas medo de dar passos grandes, 5m de cada vez.
JC: Quais são os factores limitantes do mergulho profundo?
AP: Pulmões, equalização e factores mentais. Vê qual deles está a limitar-te e trabalha-o. Eles podem mudar muitas vezes por isso deves estar atento a estes factores.
JC: És também instrutora de Mergulho Livre, podes dizer-nos o que esperar num dos teus cursos?
AP: Dependendo do nível do estudante, eu faço por este receber um novo encontro consigo mesmo(a) e não apenas aprender algumas dicas no mergulho em apneia, e também perceber que a sua mentalidade e atitude pode fazer uma grande diferença. Eu coloco mais ênfase na parte mental do mergulho livre. Podem esperar mergulhar mais fundo do que antes!
JC: Algum plano para o futuro, como quebrar o recorde de "No Limits"?
AP: Sim, eu gostaria de tentar. Mas eu também amo as montanhas e adoraria voltar a uma maior altitude novamente. Eu vou levar uma expedição de raparigas para Kilimanjaro este fim de ano e tenho de ir a alguns dos "sete cumes". Outro objectivo no futuro próximo é fazer mergulho livre com as baleias-de-bossa!
JC: Existe alguma mensagem que gostarias de deixar para aqueles(as) que compartilham esta conexão com o Oceano?
AP: Tem a tua mente alerta e faz o possível para dar algo de volta ao mar!